domingo, 26 de agosto de 2012

'deixa ir'


                Eu nunca quis “deixar ir”, eu nunca estive confortável com a situação de te ver ir e ter que esperar com a fé de que você seria minha de verdade, no final de toda sua procura ou aventura ou experiência, que o mundo te reserva. Mas saber que por aí tem outros quinhentos querendo ocupar o lugar que tanto quis manter, que tanto amei estar, que tanto preservei ter e nunca imaginei deixar, me mata gradualmente. Aí me mandam ser forte e ignorar tudo isso que me fere, seguir por um caminho onde eu possa me amar mais do que amo a quem deixei partir. Mas porque não me disseram isso antes?! Sempre quando me dão conselhos, lembro das minha declarações “eu te amo, mais do que a mim mesmo” carrego uma antiga verdade como uma pesada cruz. “Deixe ir “ eles diziam, mas quem disse que vou te querer depois de toda sua ida, suas pegadas, suas feridas de alguns novos caras, depois de aprender tanto com dores vazias. “deixe ir”, mas como me manter em pé, enquanto ela não volta, sob frieza e cinismo meus pés afundam em um chão desconhecido. “Deixe ir, se for pra ser, ela voltará” se não for pra ser o que farei depois? Sentar e chorar? Então o risco de deixa-la ir, ficar mal da cabeça, alma, coração e sei lá mais do que, pode piorar quando eu descobrir que ela não quer mais?  Que ela não vai voltar? Que após deixa-la ir, ela preferiu por lá... Ficar. É um risco muito grande correr atrás? Apostar que mais um poema faria você ficar... estarei muito velho quando descobrir a verdade, estou em um momento de espera.. onde não sei quando devo começar a me sentir arrependido ou me mostrar pronto para sua possível volta. Isso pode durar pra sempre, isso pode me ensinar a viver ou pode me matar no próximo minuto. Esse texto é antigo, mas fala sobre algo novo e além de ser novo e falar sobre algo antigo. E tudo faz parte do texto, menos o final, que ainda não achei. 

domingo, 19 de agosto de 2012

4. Merda ( Ana e Thomas)



Antes de ler esse tenha certeza se já leu as primeiras partes,1. / 2. / 3.
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4. Merda ( Ana e Thomas)

              
               Era um dia frio, pelo menos para mim, qualquer temperatura abaixo de 25º graus já considerava um dia frio. Coisas de carioca. Mesmo assim o sol brilhava e de vez em quando se escondia atrás de algumas nuvens, os meus olhos lutavam contra a necessidade de acordar, mas nem mesmo eles e o sono que os dominavam puderam resistir a aquela imagem. Ela vestia o meu casaco e ele se estendia até a metade de suas coxas, revelando somente metade de um rosto feminino tatuado em sua coxa. Ela se apoiava no portal da entrada, com os óculos de armação preta e segurava uma caneca de café próxima a sua boca. E antes de beber, sorriu. Ao me ver confuso, sem saber direito se ainda estava sonhando, ou havia voltado a ter sorte na vida. Ela caminhou em minha direção, com toda calma, e quando passou em frente a janela o sol pareceu completa-la, como um detalhe a mais. Uma obra prima, Deus sabia que havia feito algo muito belo e talvez com uma dose de ironia divina ela estava comigo.
                - vai acabar se atrasando no primeiro dia de trabalho.
                -é difícil se render e sair de um sonho desses.
                - depois de cinco meses nesse quarto é melhor alguém fazer algo.
                - mas eu só trabalho seis horas
                - são cinco da tarde Thomas.
                - preciso de um beijo seu...
                - você precisa de uma escova de dente. Ela sorriu e me beijou.
                Me levantei e fui tomar um banho, e como toda pessoa, o banho servia como um momento de reflexão, pensamentos e a vida precisava ser avaliada. Cinco meses atrás a Ana havia voltado e minha vida mudou de depressivas ressacas e cartas solitárias, para alguns sóbrios sorrisos e poesias completas. Não queríamos saber dos outros, apenas momentos pessoais, algumas horas na praia e saídas com amigos próximos. Mas ela não estava lá por completo tinha algo no seu olhar. Uma preocupação, um peso. Era como uma bomba pronta para explodir, e eu não sabia se queria adiar cada vez essa explosão, ou se devia tentar descobrir o que havia por trás daquele olhar. Mas depois de tantas noites boas eu não sabia mesmo para que caminho deveria seguir, além do mais os arranhões nas minhas costelas não combinavam com o banho quente. Terminei o banho e havia algo escrito no espelho embaçado “ao meu poeta, meu eterno amor.” Acredite, é mais fácil escovar os dentes com um sorriso que não sai do seu rosto. Quando sai, Ana tinha saído. Ela tinha deixado uma caneca de café com um recado na mesa “te encontro no bar mais tarde.” Eu ia começar a trabalhar no bar que tanto frequentei, na verdade comprei uma parte do bar, então era uma espécie de sócio e sempre quis ter um bar. Sonho de adolescente.  O bar não ficou lotado, alguns velhos amargurados e uns caras comemorando uma promoção de um amigo em comum. no primeiro dia tive sorte, os caras ficaram bêbados demais e mexeram com a mulher de um cara, ele não gostou muito e foi brigar com os caras, deixei o primeiro soco acontecer e depois fui separar. Obvio que expulsei o cara e a mulher. Não estavam consumindo muito. Mesmo assim a minha cabeça, não parava de pensar naquele olhar confuso, na saída sem falar nada, que não era a primeira vez que aquilo havia acontecido.
                - Uma dose de vodca com energético, por favor...
                - Estamos fechando moça...
                - eu preciso não dormir essa noite.
                - talvez eu sirva a sua bebida, me conte porque não vai dormir...
                - preciso de um poeta inspirado amanhã de manhã. Servi duas doses, uma era pra mim.
                - Ana, aonde você foi hoje?
                - Fui resolver uns problemas, quer saber te encontro em casa Thomas.
                Ela fugiu de novo do assunto. Ela não queria discutir. Fugir era a solução pra ela e pra mim havia se tornado uma grande merda. Bebi mais umas algumas doses antes de ir para casa, caminhei até em casa, ficava a dois quarteirões dali, deu tempo de fumar o último cigarro do maço. Como passei em frente a um pequeno mercado decidi comprar mais um maço e algumas cervejas. Estava pensativo o suficiente para não reparar no cara estranho que estava andando pelo mercado em direção ao caixa, quando eu percebi estava passando por ele, e ele sem nada para comprar fingia pegar algum dinheiro no bolso. Quando chegou ao caixa puxou uma arma da parte de trás da cintura, não era grande coisa e ele parecia nervoso demais com a situação.  Me escondi atrás das estantes de bebidas, só para evitar uma bala indesejada na cabeça.
                - não tente nenhuma gracinha e me passe o dinheiro. Apontando a arma na cara de um velho que devia ter a idade do avô dele. Essas pessoas mostram o quão merda uma pessoa pode ser.
                - não tenho muito rapaz.
                - não te perguntei merda nenhuma, quero todo dinheiro.
                - 75 reais?! VOCÊ ESTÁ DE SACANAGEM?!?
                - eu disse que não tinha muito.
                - seu velho de merda. Ele deu um tapa na cara do velho e saiu pela porta e foi correndo. O velho não reagiu e recolheu algumas coisas que caíram no chão, sem maiores preocupações ou dramas.
                - o senhor está bem?
                - foi só um tapa e 70 reais, já tive dias piores.
                - ligue pra policia, ou uma ambulância. Algo assim.
                - foi só uma merda de dia filho... merdas acontecem.
                - é... Merdas acontecem. Aqui seu dinheiro, um maço e seis dessa aqui.
                - alguém tem que ter um dia de sorte, pode levar de graça.
                - então é seu dia senhor. Deixei oitenta reais e fui embora, os caras da comemoração foram gentis na gorjeta ou estavam bêbados demais. Andei metade do quarteirão e cheguei em casa, fui pelas escadas, não queria chegar em casa. Sou um baita de um medroso. Entrei na casa e a Ana estava no sofá, vendo um filme qualquer e sorriu com a boca, mas não com os olhos. E imediatamente um frio dominou o meu estomago.
                - eu preciso falar com você Ana.
                - amanhã de manhã conversamos. Ela se levantou e chegou perto de mim, beijando meu pescoço. Eu não pude evitar, era ela, era a Ana. Então a beijei e beijei e nos abraçamos e não podia haver mais amor, em um raio de dezessetes milhões de quilômetros. E mais arranhões, sorrisos, tragos e copos d’água. Cai no sono e sonhei. Sonhei que caminhava ao lado da Ana e subíamos uma escada no meio de uma mata, estava meio sombrio e o entardecer estava um pouco azulado por causa do clima nublado. Talvez fosse uma espécie de efeito do sonho, estava azul demais. No fundo tocava uma música e subíamos no ritmo da música e nos últimos degraus eu sentia que a música estava acabando, quando chegávamos ao topo da subida, a música acabada e nós podíamos ver quase todo o Rio de Janeiro, e eu pensava o quanto aquilo era real, o vento, o clima úmido, o cansaço da subida e o perfume dela. De repente eu escorregava em uma pedra ou algo assim, e o cenário mudava eu estava em cima de um telhado a noite e com uma chuva caindo com toda força. Eu tentava me segurar nas telhas e o Vitor gritava pelo meu nome, então caia e acordei na minha cama gritando por socorro. Eu odeio esses tipos de sonhos, não sei aonde realmente estou, qual foi a parte real, acordar de dois sonhos diferentes, me faz pensar o pesadelo que se pode viver. É uma situação estranha, mas eu sou bastante estranho. Percebi que a cama estava vazia, esfreguei os olhos e corri os olhos para o portal. Ela não estava lá. Então ouvi passos se precipitando, mas logo continuaram os seus passos, a porta se fechando. Por impulso levantei correndo e fui para a cozinha. Tinha uma caneca de café com uma carta embaixo. “Thomas me desculpe, mas...” não quis terminar de ler peguei a chave do carro e sai. A vi entrando em um taxi, liguei meu carro e com certo esforço alcancei o taxi dela. Já esperava aonde ele ia parar, era a mesma rodoviária, era o mesmo pesadelos de um tempo atrás, era o cair do telhado. Parei atrás do taxi e gritei pelo nome dela assim que ela saiu do taxi.
                - por que Ana? Por que sem me avisar?
                - eu não consigo Thomas, eu te amo, mas...
                - mas o que Ana?! se você me ama fique aqui, comigo.
                - Você está de samba-canção? Enfim... Não, é simples Thomas eu tenho outra pessoa e estava bem com ele, mas fugi porque só pensava em você ...
                - e agora vai fugir de mim, quando vai parar de fugir Ana? Por que vai fugir?
                - não sei Thomas, não sei sobre medos, amor, nada sobre a vida. Eu só levo, um dia me sentirei segura o suficiente...
                - se for Ana... por favor não volte...
                - temos um destino infinito. Juntos Thomas, traçado há cinco anos e mil sorrisos atrás... só não é agora, um dia ficaremos juntos, mas sinto que tenho algo pra viver, além de nós.
                - não sabia que era poeta agora.
                - frieza não combina com você. Não respondi, não sabia o que dizer, não tinha um porque para dizer. Ela me abraçou.
                - até mais meu poeta.
                 Prendi meu choro, entrei no carro, acendi um cigarro e transformei em fumaça qualquer sentimento. Fiquei ali parado com uma blusa amarrotada, uma samba-canção e um par de sapatos, sem poder ligar o carro. A tristeza de não ter um bom destino. Depois de um tempo fui para casa, peguei a carta joguei dentro da privada e dei uma boa mijada em cima dela, dei descarga e fui para a sala, me sentei no sofá liguei a televisão. Estava passando um filme de ação, um daqueles sangrentos.
                - por favor, não me mate!
                - você não me deu escolha.
                - eu tenho família, não faça isso com eles...
                - eu simplesmente não ligo...
                Então o cara deu uns cinco ou seis tiros no outro.
                - pois é amigo, merdas acontecem. Dei um bom gole no café.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

14-05-90


Nos meus sonhos a gente se aventura
Será que ela é o fim da minha procura?!
Quem pode me dizer?
se vejo nossas fotos e só torço pra acontecer.
porque quando tento me expressar
O pensamento parece não saber formar
A palavra certa que eu possa conquistar
Só mais um dos seus sorrisos,
Que de hora em hora se torna tudo que preciso
Talvez para um passo a mais
Talvez um pouco de paz.
Jaz a dor, o medo e a ansiedade,
Só pelo tanto de verdade
Que seu olhar trás. 

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Vai chover de novo


Sei que vai chover de novo,
atrevo a me molhar.
Só pra saber se há algo novo
No seu olhar.
Há algo estranho em mim
Toda vez que eu te vejo
me perco por aí
entre o medo e o desejo.
Como vou saber diferenciar
O bom e o ruim da esperança?
Saber se só estamos sonhando,
Ou se um dia a gente alcança...
Em quantos versos mais
Terei que me perder?
Será que um dia o medo vai,
morena, se render?

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Lucidez imaginada


                Me imagino um dia acordando e entendendo tudo o que você quis me dizer, todas as suas dores, todas aquelas dúvidas e perguntas constantes e desfocadas. Talvez você me convença das suas crenças e eu pare para ouvir seus discursos confrontando todo meu mundo. Também me imagino um dia acordando e você parando para me ouvir, querendo saber sobre minha forma de ver esse mundo, minha breve e completa crença, a minha forma de desfocar as coisas só para enxergar, no meu modo, todas as coisas, ruins ou boas. Te diria dos meus desejos e da forte procrastinação da minha vida, da forma que fecho os olhos para me imaginar em frente ao mar, em uma praia solitária. E da curta tristeza que me toma ao abrir os olhos. Queria que alguém me escutasse para eu poder falar da minha eterna saudade, por maior que seja a dor, desprezo e nojo. Sinto falta. Em algum momento, ou até mesmo um só, eu sorri sinceramente e sorrisos sinceros são memoráveis. Saber que começo a escrever só sabendo a primeira frase e logo depois tudo se vai. Não sou bom em falar, nem meus sentimentos. Fico imaginando como você reagiria quando eu lhe dissesse que não sou tão fã das pessoas, mas prezo e luto pelo amor ao próximo. Eu e meu egoísmo, mas tenha certeza se prometer a me ouvir eu escuto o que você tem pra me dizer. Sem maiores apresentações e juras de amor. A lucidez é um problema pra mim e fugir dessa vida criada pela minoria, soa como covardia, mas não somos obrigados a aceitar. Bom eu não sou e faço questão de me manter longe, pois a mudança é constante e me manter distante me faz ser mais vivo. Vivo por dentro dos meus conceitos e com todo respeito, não tem direito de me converter ao seu comodismo e a uma morta fé, para se encaixar perfeitamente em um molde feito para quem recusa ser diferente em prol de um indelicado status, que eu não sei nomear. 

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

talvez um nada


talvez eu precise de um cais e águas tranquilas.
talvez eu precise de uma foto preto e branco,
onde as cores de um perfeito fim de tarde fique só pra mim.
talvez esteja faltando um momento só pra mim, mesmo tão só,
me dedicar ao amor próprio, com uma bebida gelada e um bom livro.
não adianta construir sorrisos, escondendo ofensas, lágrimas e mentiras.
e se me restou seguir em passos curtos e solitários, que seja.
me sinto melhor assim, carregava um mundo em forma de máscara,
sorri para todo egoísmo exposto por todos.
e quando não suportei mais, a minha máscara caiu e por trás dela me sentia mais forte
ou talvez eu só me sentia mais 'eu', havia me encontrado.
me libertei de um mundo que ajudei a construir, mentiras, lágrimas e segredos.
depois disso vi que não precisava que vocês lembrassem do meu nome.
até porque não gostaria de ser lembrado na época que vivi por aí,
um dia serei ainda melhor e espero que tentem esquecer de mim,
se a persistente inveja e imaturidade  deixar, certo?
escrevi milhares de futuros, esqueci de pôr a solidão,
em alguns vocês eram eternos, hoje são detalhes. detalhes não.
vocês só preenchem vazios, NÃÃÃO! vocês compõem um vazio. enorme.
há uma alma velha dentro de mim, ela anda cansada.
mas sempre disposta a me manter vivo, sendo eu mesmo, só.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

.nossa estação



hoje quando tento olhar pra trás,
vejo que o que construimos não existe mais.
quando tento ver aonde exatamente estou
vejo que apenas sou o que sobrou,
de um alguém que tanto sonhava.
em todos espelhos, do meu olhar sumiu,
o brilho que um dia me consumiu
e mostrava o quanto eu era feliz.
agora não importa em qual estação
você irá partir ou tocará nossa canção.
se do meu peito já se a foi fé
de um dia, na ponta do pé,
alcançar a vida que um dia planejamos.
pode começar a inumerar os nossos erros,
eu tentarei te lembrar que somos fortes.
pode dizer que não estou certo,
ainda confiaria na nossa sorte.
talvez esse seja nosso problema,
fizemos de nós dois um dilema.