domingo, 28 de abril de 2013

Madrugada



Em uma madrugada qualquer, estarei deitado ao seu lado e vou lhe fazer promessas
E você vai pedir silêncio, não vai saber reagir, vai querer sumir, vai querer ficar.
Então falarei do que acho ser eterno e você não vai ligar e vai me calar por um segundo a boca.
Mas posso ficar do seu lado, decidi ficar, terá minha amizade. Meus sorrisos sinceros.
Você vai ver o sol nascendo e vai apressar os passos, já não pode mais ficar.
E antes de ir vai me calar a boca mais uma vez, vai me beijar mais uma vez.
Vai levar de mim o sono, vai me entregar sonhos. Vai ficar com meu coração nas mãos.
Só para poder brincar, hora vai apertar, hora vai acalmá-lo. E quando me vê longe, vai resgatá-lo. E pegar, de novo, o meu amor para você. O seu já não é meu. O meu já não existe mais.
Então o sol vai me atingir, como sua frieza, como minha fraqueza.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Seu olhar em sonho



     Quando se olha pra trás de uma antiga história, vimos aquilo que queremos ou aquilo que mais nos marcou? Seja bom. Seja ruim. Seja sorriso ou uma lágrima. Quando houve amor, todo momento parece ser essencial, todo momento faz falta. Todo detalhe se torna uma vida. O que eu mais amei em você sempre foi o seu olhar. Já que as palavras sempre foram a minha parte de nós dois. O seu olhar gritava coisas para mim. Amava seu olhar ao se encontrar em um texto meu. Você parecia satisfeita, como se um dos seus sonhos estivesse em suas mãos. Ou quando eu te gritava e você vinha ao meu encontro e de longe seu olhar me dizia que queria algo novo, queria me surpreender, queria aumentar um pouco mais do nosso amor. Seu olhar tímido quando víamos ou ouvíamos um romance e seu olhar entregava seus planos, seus antigos desejos. Em uma forma que lhe deixava incrivelmente frágil. Lembro do seu olhar de confiança, quando me pedia para dirigir meu carro e parecia querer ter o mundo nas mãos, comigo ali do lado. Talvez eu esteja exagerando. Eu estou exagerando. Mas meus olhos te amam. Como te ver diferente? Ou talvez eu esteja cego. O olhar mais marcante era quando estávamos somente nós dois e em um sincronismo perfeito, parávamos, parávamos o mundo. E você me olhava bem nos olhos. E dizia algo que nunca havia entendido, mas que me queimava por dentro. Hoje entendo; “pra sempre”. Pra sempre seu olhar estará aqui, talvez eu te ame pra sempre. Mesmo que isso seja ruim, ou bom. Mesmo que me traga sorrisos ou lágrimas. Estarei esperando o olhar que parava meu mundo. Da garota dos sonhos que se tornou o meu mundo.

sábado, 20 de abril de 2013

Entre tempos



     Ela descrevia seus sonhos de forma tão real, que os seus sonhos se tornaram os meus sonhos. Ela tem os olhos que são como oceanos de esperança que transbordam de alegria quando completam o seu sorriso. Ela não era vaidosa, saboreava em si a simplicidade na qual a vida lhe encaixou, ela faz piadas ótimas de tão sem graças que são. Eu ri. Ela dançava sem o mundo a sua volta. Ela não se importava. Ela trilhou um caminho, uma rota aonde não se via o que estava a sua frente, sem planos, ela só ia, de vez em quando corria, quando a mesmice estava por lá. Ela sempre ia. Ela procurava a coroação de si, ser padrão, sem caprichos, só para provar a si mesma que era maior que suas cicatrizes e feridas. Ela tem um abraço confortável e acolhia as dores de quem lhe era importante. Ela não falava sobre amor, embora seu beijo simplificasse o amor em si. Ela tinha meus sentimentos em suas mãos, ela estava surpresa. Parecia gostar. Parecia amar. Ela sorria. Não sabia o que queria. Nunca soube. Ela ainda não sabe. Ela não quer saber. Lhe disseram. lhe convenceram que o amor machuca. Não há espaço para dor, não mais. Para quem se encontra entre presente e passado.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Um sorriso em dor



               
                Eles olham para trás e lá estava eu, estranhando minha própria sombra, por ainda achar que estava à noite e perguntam se estou bem
                -  está tudo bem com você?
                Eu digo que sim e ignoro seus olhares tortos e a ajuda dos que considero mais amigos, em minha testa arde um arranhão e depois de levantar percebi que meu olho esquerdo não estava aberto. Devia estar um pouco bêbado. Eu ainda estava bêbado. Então o amigo mais próximo perguntam se ainda valia a pena toda aquela dor. Já não sabia da dor que ele queria dizer, então forcei abrir os olhos para poder olhá-lo e ofender de uma forma melhor que apenas um dedo. Eu não me lembrava muito bem o que havia acontecido.
               
                - você se meteu em uma briga, estava com a mulher de um cara, três vezes do seu tamanho.
               
Eu gosto de brigar. Eu sei lutar.
                Bom sempre que acordava depois de uma briga, era isso que eu tinha como certeza. Mas todos negavam. Todos incluindo meu rosto. Então fui para casa. E no caminho as pessoas continuavam a me olhar. Uns tinham pena. Alguns tinham nojo. Eu era só um rosto após um atropelamento. Nada demais. Nada mais parecia estar no lugar que estavam ontem. Alcancei meu quarteirão e um homem que por acaso me conhecia me ajudou a subir as escadas. Era meu vizinho. Era meu vizinho da porta da frente, não era minha culpa, era culpa do olho fechado e do caminhão com pernas que passou por cima dele.
               
                - você foi atropelado?
               
                Não fui atropelado, fui atrás do que eu queria. Queria um pouco de uma nova dor. Nunca tinha ficado com o olho daquela forma. Fui atrás e consegui o que eu queria. Já estava sozinho em meu apartamento. Eu estava de frente ao espelho. Ali parado, com o olho no tamanho de uma bola de basebol, consegui sorrir. Meus dentes estavam vermelhos e o gosto de sangue me causava mau hálito. Tirei o sorriso do rosto, mas a imagem refletida continuava sorrindo, como se o espelho tivesse tirado uma foto e moldurado em tamanho real. Depois de alguns rápidos segundos a imagem refletida voltou a se movimentar. Mas não me acompanhava e olhava pra frente como se eu não a atrapalhasse. Uma janela. Então o meu reflexo se curva e aproxima o olho do tamanho de uma bola de basebol, de mim e começa a arrancar a pele dele como uma espécie de curativo, ele rir, como se fosse uma nova dor. Então começa a sangrar. Ele continua tirando a pele. Até não haver mais nada. Ele para endireita a coluna. Agora a imagem me acompanha no que eu faço. Então reparei que no lugar do olho do reflexo havia um buraco que não parecia ter fim. Então me curvo. O reflexo também se curva. Olho bem nos olhos então tudo ao redor de mim é sugado pelo olhar do meu reflexo. O cenário muda consigo me ver no bar, tropeçando nos outros com um copo de qualquer coisa na mão. Então agarro uma mulher e a beijo. Ela parecia estar gostando, então aparece o caminhão humano. E me acerta alguns socos. Eu sorria. Sorria de felicidade. Como se procurasse a dor. Como se procurasse a fenda dos meus olhos. Cai desacordado. Ninguém me levanta. Então tento me ajudar. Mas algo como um vidro me prende. Posso andar para os lados. Então vou para direita. Passo por uma espécie de parede e logo depois pude ver o bar novamente, na frente havia um espelho e eu me vejo nele. E me vejo em outro espelho, e depois em uma parte laminada da porta. Estou preso em um espelho. Reparo nos meus olhos e lá estava a venda. O caminhão me chuta enquanto estou desacordado. Sinto a dor mesmo estando dentro de um espelho. Então fecho os olhos e algo em meu peito queima e depois de alguns minutos ou horas. Sinto um alivio enorme algo como colocar os pés na água do mar após percorrer alguns longos metros de areia quente. Em mim prevalecia a vontade de sorrir. Tudo estava preto demais. A dor era enorme. Eu sorria. Procurava uma dor diferente. Procurei um fim.