No barulho das ruas, nossa solidão nos cala.
Caminhamos sem responder sorrisos, vagando no tempo atrasado, se fechando de
toda possível experiência. Só para não arriscar ser feliz com um novo alguém.
Como se tivéssemos escolha. Em um momento com sua banda preferida gritando nos
fones, ela entra com a camisa da mesma banda , faltando uma estação para sua
descida. Agora o tempo vaga na pressa, aliado com a sua vontade de se perder
novamente, ela bate os pés como se escutasse a mesma música que você. O cabelo
sem cor, os tênis vermelhos, o vestido estampado. Onde estava a solidão com
quem se caminhava? Agora falta pouco, ele pensa que pode nunca mais vê-la, ou
talvez ele se atrase mais uma vez amanhã só para encontra-la de novo. A porta
se abre, a música para, eles se olham, e das duas partes nenhum sorriso
respondido. A música recomeça, a pressa dos outros ditam o ritmo dos passos e
sem olhar para trás eles se perguntam “será que ele olhou?”. Na rua tropeços e
o sol nos olhos e quando se percebe já está no outro lado da rua . Quando se
acha alguém, é como caminhar distraído e sem perceber você desviou dos tropeços,
ignorou o sol na cara, a pressa alheia e chegou do outro lado, alcançou o que
nunca morreu. Não se percebe e já está do outro lado, não se percebe e seu
coração já não é só seu. Mas na razão se para, se olha, se evita, o medo de
arriscar, não nos cega. Ele se desculpa pela meia hora de atraso, senta no
computador, escuta a mesma música e o dia acaba. O travesseiro demora a
esquentar, acompanha o ritmo do pensamento, por fim os olhos se fecham. O despertador
toca. Ele finge não escutar durante meia hora.
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