segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Aposta de bar


               3.

                Lá estava eu, acordando no sofá mais uma vez, com barulho do jornal batendo na porta, devia ser o terceiro jornal que eu recebia no mesmo dia. Ou estava mal o suficiente para não perceber o passar dos dias. Estava passando o noticiário de domingo de manhã. Eu fui dormir na sexta-feira... ou na quinta-feira. Pois é a vida estava correndo pra mim. Continuava magro demais para sentir fome e tão pouco era percebido por alguém na rua. Fui tomar um banho e conseguir algum dinheiro para comer e comprar uma nova calça para trabalhar.
                A água acabou nos primeiros cinco minutos de banho, lavei o necessário e sai de casa. Quando abri a porta estavam lá os três jornais, o bom era que eu ainda sabia contar. O ruim é que em cima dos jornais havia uma carta do meu antigo trabalho. Na verdade não sabia que era antigo trabalho até ler a carta. “Senhor Carlo Fernando, depois de faltar por cinco dias consecutivos ao trabalho sem maiores explicativas. Saiba que não precisa voltar na segunda-feira, não precisamos mais dos seus serviços. Desejamos sorte” Dane-se você, seus desejos de boa sorte e sua padaria escrota. Chutei os jornais e fui embora. Malditos jornais, assinei para mostrar que sou algo que não sou. Odeio noticias de tragédias, não entendo nada de bolsa de valores e meu joelho não funciona muito bem para fazer nenhum tipo de esporte e vê-los nunca foi do meu agrado. Escrevi um livro uma vez, minha vizinha, Karen antes de morrer, mostrou para um amigo que trabalhava em uma grande editora. Eles publicaram, todos adoraram, virou um filme. Ganhei uma boa grana e gastei tudo com o pior que o suburbano poderia me oferecer, ainda tive consciência para guardar um pouco. Mantenho minha casa, quase de pé com o pouco que sobrou. O que estava acabando era o que havia sobrado de mim. Fui ao bar de sempre, onde estava devendo uma boa grana ao senhor Marcus, mas ele tinha um bom coração, ou era só mais um otário como eu. Não tinha nenhum trocado para pagar a divida e quando chegava, fazia o meu pedido de sempre. Ele me olhava com o olho que funcionava e sorria pra mim. E me servia o drink, que com o tempo eu havia me esquecido o nome.
- Parece cansado Carlo
- Difícil Marcus, eu hibernei faz pouco tempo. Ele riu.
- Marcus sabe que não tenho como te pagar, certo?
Ele se aproximou, estava fedendo a vodka ou uma bebida ainda mais forte. Jurava que ele ia me bater, imagina um cara de cinqüenta apanhar por um de setenta e cinco.
- Nem tudo se paga com dinheiro filho...
Não sei se devia ter ficado com medo dele e quando ele se virou pedi mais uma dose. Ele me serviu. O bar estava mais cheio do que a última vez que eu havia entrado lá. Como de costume só duas ou três mulheres, todas dignas de um exorcismo. E na mesa mais escondida havia um grupo jogando e percebi que havia apostas e eu precisava de dinheiro. Tinha dez reais no bolso, o suficiente para tentar enganar o meu continuo azar.
- Marcus quem são aqueles?
- Eles aparecem essa semana na cidade e vieram todo dia no bar. Fazem apostas altas e conseguiram alguns clientes para mim. Não pude expulsa-los.

Caminhei em direção a mesa deles, queria entender a lógica do jogo, parecia bem simples. Na verdade era bem simples. Você escolhia uma carta e se ela aparecesse primeiro do que as outras escolhidas pelos outros jogadores.. você levava o dinheiro. Entrei com a aposta mínima, que na minha realidade era o meu Maximo. E a sorte parecia estar colaborando. Escolhi o 7 e de primeira. Veio a carta. Existia um bônus pela posição da carta. E ganhei uma boa grana... fui me distraindo. Jogando mais, bebendo mais. Gritando e ofendendo. Estava no topo estava com sorte, ameaçava estar feliz. Depois de alguns flashes de sorrisos e logo depois acordei com alguns socos na cara e chutes na barriga.
- Acha que pode nos enganar, seu merda?! Mais chutes e socos.
- eu devolvo o dinheiro, ta aqui. Eu sorria, sem saber o por quê.
- Você se acha esperto não é?! Seu velho de merda? não quero o dinheiro. Disse enquanto recolhia o dinheiro, me sentia em um filme mal dirigido. E com o elenco pior ainda.
- O que eu faço para parar de apanhar? Esquivando-me de um chute e esbarrando em uma lata de lixo.
- Diga ao velho Marcus que ele não trabalha mais aqui.
- Mas ele é dono do bar, desde sempre. Não farei isso com ele.
Então o famoso barulho de arma aparece bem atrás de mim. Eu faço cara de compreendido.
- mas você acha que vou entrar lá, sem mais nem menos o mandar sair e ele vai recolher suas coisas e partir?
- tome leve essa arma, aponte no meio da testa e fale com ele. Me deu uma arma cromada, linda como aquelas de herói de filme.
- como sabe que não vou atirar em você agora? Os barulhos de armas se multiplicaram.
- entendi...
Estava confuso, ou eu morria ou matava o velho Marcus do coração. Resolvi entrar. O bar estava vazio, ele colocava sobre a mesa as cadeiras e com a idade a dificuldade era enorme.
- Você pode me ajudar se quiser filho...
- Não precisa arrumar o bar Marcus, ele não é mais seu...
- O que você está dizendo filho? Ele me encarou, com seu olhar desfalcado.
- Aqueles caras, me obrigaram a te expulsar do bar. Eles disseram que vão tomar pra eles e me obrigaram a fazer isso.
- Se fossem tão durões não mandavam o cara mais merda e bêbado me tirar daqui... Se quiser ser alguém além desse fracasso, me ajude. Ele foi atrás de um balcão e puxou uma pistola antiga, que não daria conta dos cinco homens lá fora.
Ele passou por mim, pude ouvir um tiro e logo depois outros tantos tiros, nunca mais vi o Marcus. Eu fiquei na frente da porta dos fundos sem ultrapassá-la, talvez por medo ou ainda estivesse digerindo como o Marcus havia me descrito. Depois a porta se abriu e um frio ia me tomando. Tinha recebido um tiro na barriga, morreria como um covarde, embaixo de chuva, em um beco sujo atrás do meu bar preferido. Ouvi algumas sirenes e mais tiros. Depois um rapaz encapuzado saindo do bar e subindo as escadas para o telhado, sem ser perseguido. Depois mais frio, silêncio e por fim uma confortável ecuridão.


desculpa a demorar pra atualzar, mas estou de férias. e tem o calor também. odeio escrever no calor.

Um comentário:

  1. Nossa, cara. Só fiquei satisfeito quando cheguei no final. Me prendeu a atenção! oO

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