quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Um punhado a mais de café


Hey... Esse é o primeiro de alguns contos que vou escrever e pôr aqui.         

                  Ele pegou um punhado a mais de café, estava com sono e precisa suportar a sua mulher por mais dois dias. Ele queria sair de casa, mas o filho tinha as provas finais e não podia levá-lo com ele em uma situação assim. Sim, ele ia seqüestrar o filho.  Não suportava mais a sua mulher, além de se chamar Maria... ela gritava, fedia a perfume barato e cuidava mais do gato do que cuidava da casa. A casa era do tamanho de um trailer e mesmo assim vivia uma bagunça. Roupas pelo chão, farelo de comida no sofá, louça suja e o gato limpo. Ele estava na cozinha e preparava um sanduíche com o frango do jantar anterior, com o cigarro na boca, e enquanto preparava o sanduíche algumas cinzas agarravam na barba, outras na camisa, outras caiam no pão. Ele não se importava. Só pensava em como seria melhor a sua vida longe dali. Ele olhava pelas janelas enquanto caminhava até a poltrona e via cenas de suas memórias que não voltavam mais. Enquanto os vizinhos sorriam, ele via os seus antigos sorrisos, enquanto as crianças brincavam, ele via seu filho quando era feliz. E quando pisca, ele acorda e vê o quanto cinza está o presente na sua vida. A mulher saiu do quarto e o cheiro de 1,99 tomou conta da casa, ele enrugou a cara. estava no seu limite. O gato saiu do quarto e andando bem devagar, parecia querer provocar, sentou no braço da poltrona. Estava fedendo como a mulher. Ele se lembrou do cachorro que tinha, até descobrir a alergia da mulher ao cachorro. Pobre Miguel teve que ir para o canil e esse gato que ele não lembrava o nome havia tomado conta do seu lugar. Ele era o dono da casa.
                Depois do sanduíche ele pegou no sono. O sonho era algo estranho, era como se ele tivesse morrido e estava preso em algo. Uma fila sem ordem, onde em televisões turvas se passavam alguns momentos que haviam sido esquecidos por excesso de álcool ou de tristeza, amargura. Algo muito ruim que envolvia a vida dele. Ele percorreu a fila, ninguém se importava, ele reparava nos rostos e todos carregavam dor. Ele acompanhava algumas reações pessoas choravam, algumas se retorciam, alguns fechavam os olhos. O medo. Tudo se resumia ao medo. Quando ele estava chegando perto do primeiro da fila ele viu seu filho. Na frente dele havia mais uma pessoa e um penhasco. El tentou gritar mais não conseguia. A pessoa que estava na frente se jogou no penhasco e um frio tomou conta da sua espinha. O filho caminhou até a beira do penhasco e olhou para trás direto nos olhos do pai. Ele podia ver o pensamento do filho, as lembranças felizes sendo destruídas por brigas dos pais bêbados, a mãe antes feliz, vestindo a armadura de uma mulher escrota. Ela estava cansada de sair no meio da noite do quarto que fedia a ressaca para dormir com o filho que chorava de medo do pai, com as histórias infantis que nunca lhe contaram. Assim que a visão se passou o filho deu um passo à frente. Ele conseguiu gritar, mas o não gritado não adiantava mais. Ele despertou, soava frio.
                Já estava de noite. A TV estava baixa, o cigarro havia feito um buraco em sua camisa. Ele levantou para tomar um banho, a casa estava toda apagada, seu filho provavelmente não havia voltado da escola. Ele passou pela casa, sem perceber o quarto estava vazio. Todos os quartos estavam vazios. Ele entrou no banheiro e quando reparou que havia algo errado na casa. Jogou água na cara e deu meia volta. Tudo parecia em câmera lenta e em sua cabeça latejava, o pesadelo, as memória, as dores. Passou pelo seu quarto e estava sem nada da sua mulher. Uma cama vazia. No quarto do seu filho estava tudo bagunçado e em cima da sua cama havia um desenho. Ele caminhou até o desenho. Era um penhasco. Ele chorava não sabia o que fazer. Saiu correndo, foi para a garagem o carro não estava lá. Ela havia fugido. Voltou para dentro de casa, encheu um copo de uísque e viu que na geladeira tinha uma carta da sua mulher. Dizia assim:
                Vinte anos. Foram vinte anos morando com você. Eu te amei, amei tanto. De começo sentia o seu amor, o seu carinho, o calor em suas mãos. Mas com o tempo tudo se foi. Os nossos dias de sol ficaram nublados, você bebia, fumava... se entregava aos vícios. Eu deixei de ser aquela mulher amável me entreguei à mediocridade. Você cheirava a promiscuidade, não queria isso para meu filho. Nosso filho com apenas doze anos. E era obrigado a ver seus sonhos indo embora por causa de um pai ausente. Um pai bêbado. Ele pediu paciência, tinha fé em você. mas com o tempo nem seu filho acreditava mais. Ele teve mais um pesadelo. E você o jogava de um penhasco. ele tem medo de você. ele te ama, mas prefere a sua distância para não te odiar. um dia voltamos para te ver. Cuide do gato. Esse foi o último pedido do Júlio para você. Se cuida, sempre vou te amar. Mas você se entregou aos nossos medos e não há mais como seguir sem dormir, sem poder sorrir. Comprei um novo perfume. Usava o outro porque sempre soube que você odiava. Nem tudo é perfeito. Muito menos o amor.”
                - Vou te chamar de Miguel. Enquanto chorava. Enquanto ele miava.
                -Miau.
                - cala boca... Miguel.
               
 Até mais, ou não.

5 comentários:

  1. Profundo! Experiências próprias? (risos). Bom!

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  2. marchiche muito boooooooom o conto !
    Gostei bastante, principalmente da sacada
    oposta. Dessa transposição do pensamento
    do homem e do da mulher que foi até um
    tanto estarrecedor no final. Brilhante!

    Só na próxima não use a expressão 1,99
    HAHAHAHAHAHAHAHAHA

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  3. mt bom, nem parece que foi você que escreveu...
    abraço, irmão.

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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