Hoje o sol não quis aparecer, mas as
pessoas ainda sim se amontoaram em ônibus e foram para as praias. A rádio ainda
não encontrou a sintonia certa e a música que está tocando não faz sentido
nenhum pra mim. O café está sem açúcar, mas algumas formigas carregam pequenos
grãos brancos e formam uma grande fila na minha cozinha. A garrafa vazia desde
ontem já não mata a minha sede, na televisão noticias manipulam um povo que já
não entende o quanto é vitima e eu posso jurar que tudo de ruim que aconteceu
hoje, aconteceu na semana passada. A brisa já não basta, o suor já não cansa, a
alma já não se lava. Na esperança de uma nova porta, enfrento aos poucos o que
meu coração já não suporta e ele se comporta da forma que coube a si, depois de
tantas despedidas não restou mais nenhum adeus. Ela diz que procuro a mulher
perfeita como se só isso me satisfizesse, mas não consegue ouvir que foi por
sua causa que desacreditei dos antigos sonhos e das coisas que via nos filmes e
nos bons livros, mas a culpa não é só sua. Eu esperava muito de você, na
verdade, eu esperava tudo. E depois da sua passagem por aqui parece que não me
sobrou nada. Como um furacão ou terremoto qualquer. Uma tragédia não anunciada
no meio de um domingo de sol. Não queria me sentir vitima, mas são oito da
noite e eu estava esperando um sol na janela. A insanidade completa a solidão.
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