segunda-feira, 24 de junho de 2013

Vício da alma



                Eles carregavam nos ombros todo o peso das dores alheias. Você consegue enxergá-los? Eles se vestem com mantas negras e caminham no escuro. Cantarolando de forma sincronizada e com vozes graves, cânticos sem letras, melodias sobre morte. Como sabíamos que era sobre a morte?  A cada nota cantarolada; o suicídio e algumas imagens antigas se desenhavam em nossas mentes, ricamente cada detalhe. A cada gota de sangue desenhada brotava em nós um pouco mais de suor, secava um pouco mais a garganta e o ar fugia, talvez por medo, ou talvez fosse cúmplice do nosso terror. Vagavam nos segundos e os segundos se transformavam em horas. Sempre nos mantendo perdidos. Eu um dia vi um desses de perto. Seu rosto não há fim e nele você, apenas caminha em direção ao abismo mais perto, não adianta gritar, sua visão sempre morre. Então depois de tanta dor, eles te mantêm vivo, para que você tenha medo deles, para que suas histórias de tortura se espalhem por ai. Então por que estamos aqui perto demais deles? Talvez a dor vicie, ou talvez tenha um prazer nisso tudo. Vai saber, mas depois de sofrer tanto você parece estar viciado. Como se precisasse de mais uma dose. Tragar um pouco mais da dor sem fim, de uma morte repetida. Mas por que só existe um? Na verdade aos poucos eles estão sumindo, são almas antigas, sentimentos passados, espíritos insistentes. Esse que esta passando agora, atrás daquelas árvores. Consigo ver, o que que tem ele? Ele é o mais antigo, dizem que todos os outros sentimentos vieram dele. E toda morte de cada sentimento veio também dele. Dizem que ele engole gigantes, derruba reis, constrói infinitos. Colore e descolore o que pode ser visto.  Como o céu? Principalmente o céu. As melhores músicas, dizem por aí, foram feito pra ele. Para o maior de todos. Mesmo com toda dor, ele é o todos querem pra si. Qual o nome do mais antigo? Chamam ele de amor.

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